sexta-feira, 1 de julho de 2011

XXXII



     Pela manhã, por vezes, às primeiras horas de luz... devagar. Como é levantar-se pela manhã? Caminhar a passo acelerado do início ao fim da rua, atravessando as primeiras horas de luz até ao seu fim. 

     Que peso aí? Que peso pesa aí? Nessas primeiras horas, do início ao fim, enquanto tudo ganha espessura, endurece e oprime. Febre? E quem mente quando mente dirá bem, exprimirá certo. Peso, aí. Rua dentro e depois fora. 

     Alguém que aparece ao longe. Porque cada manhã, cada primeira hora de luz revela, não... perde nesses primeiros raios toda a espessura, abala toda a firmeza. 

     Então que peso pesa aí? Nessa primeira luz que torna a gravidade um mito. Caminhar aceleradamente pela calçada, de olhos postos no chão prevendo. A primeira luz da manhã ainda sem sol. Que peso aí, caminhando apressadamente sobre a calçada? 

     Pára. Como nunca tinha feito, nem tornará a fazer. Pesa agora numa pedra meio solta, meio a abanar. 

     A pedra, essa, foi talhada por um saber esquecido, manteve-se firme - mais nada. Agora, às primeiras horas, vacila sobre o peso que caminha acelerado pela rua. 

     Estica os dedos, o braço (esquerdo), encolhe o corpo e colhe o pedaço trémulo de chão. À primeira luz da manhã os lados e a base da pedra tinham ainda as marcas do cinzel que a trabalhou, Que a trabalhou perfeitamente para o lugar de onde ainda há pouco, à primeira luz, se soltava. 

     Que pesa aí? Nessas primeiras horas de claridade, de brancura que tudo engole. 

     Com a ponta da língua sentiu-lhe o sabor, as ranhuras do cinzel. Olhou a terra que ficara para trás, inimaginavelmente ainda lá, ainda depois de tanto tempo. Deitou-a fora, o mais longe possível. 

     Porque cada manhã, cada primeira hora de luz, perde, dissolve. Então que peso pesa aí? Rua fora, caminhando apressadamente de olhos colados ao chão.