segunda-feira, 28 de março de 2011

XXVI

    Le lit, toujours là, pour le moment. Parfois on se couche, on se couche pas, on s'étend, une oreillette entre les genoux, ça devient plus confortable. On y est né, enfin... c'est ça qu'on nous dit. Le lit, on le fait, on le fait pas, on le refait. On pousse les draps, on les soulève, quelque fois on les déchire. Au lit on s'arrête jamais... parfois une puce! Chaque fois qu'on se couche on se lève, on se lève toujours. Pourtant on reste fidèle aux puces, au lit. Dans le lit il y a toujours quelque chose qui pousse, quelque petite saleté qui dérange, parfois une tâche, alors on change les draps, on sait pas, on dormait. Dormir... mais qu'est-ce qu'on raconte? Un jour on sera au lit pour du bon, on y sera avec toutes les saletés qu'on s'efforce maintenant de cacher, on y sera toujours avec l'oreillette au milieu des genoux et bien sur aussi la puce, toujours la puce que chaque fois nos morde en disant qu'on est encore en vie. La puce immortelle qui est au lit.

XXV

     Um breve traque na escuridão, dir-se-ia que de alguma forma o espaço se fechou numa imensidão de luz. Não é bem assim, a casa é uma velha casa, à força do hábito já não é preciso pisar o chão para que cada tábua estale. A casa está vazia, são essas tábuas, que se esforçam por soltar-se sozinhas, isto apenas por estarem assim... mesmo, a terra contra a gravidade. Nessa casa há algo que continuamente tenta emergir, não, perfurar, não... há algo que se rompe continuamente. No tecto, uma brecha que divide a casa ao meio, exactamente por cima da cabeça de quem olha (se alguém olha). Sempre lá esteve e nunca parou de aumentar. De há uns anos para cá que um líquido esverdeado escorre de dentro dessa frecha. Nos dias mais húmidos, em que esse líquido é menos espesso, solta-se e pinga-nos a cabeça, escorre pela testa, por entre os olhos até à boca como se fosse pranto, como se fosse nosso, sempre rompendo o ar e a monotonia do rosto como se fosse a primeira vez. No princípio uma pequena passagem com o lenço era bastante para que desaparecesse, agora o rosto parece tão verde quanto o tecto, mas não é o tecto, que esse rompe continuamente, ruidosamente. Dizemos que vive. O lenço é apenas um traço de um passado - como muitos - escondido dentro das calças. O líquido esverdeado, nos dias de mais húmidade escorre para a boca e alimenta. Sentamo-nos aqui na primeira fila, desde o primeiro dia, da primeira hora, à espera que finalmente a casa se rompa definitivamente, para que finalmente recomece. Recomeçar, sempre, mais uma vez, só mais uma vez, um minuto, um segundo, o tempo de o agarrar e o guardar. As tábuas que se esforçam por abandonar, que recriam a cada instante a caminhada, a casa que rompe, que se rompe, cada vez mais, sempre, no entanto, assim. Sentados, olhando para cima, esperamos que caia, de preferência silenciosamente, ruidosamente.

terça-feira, 8 de março de 2011

XXIV


Ora bem, há três posições diferentes... três posições possíveis... estamos aqui a falar de... vamos falar de... um momento. Perdão. Há aqui uma distinção que é preciso fazer. Ora atentemos à janela... a janela... sim, sim, ja-ne-la, é preciso disti... disting... merda! Deixemos a janela. Há aqui uma coisa que é preciso separar, não, são três coisas... É preciso distinguir absolutamente conhecimento e linguagem, duas coisas. Perdão. A linguagem diz respeito à língua sim? Já conhecimento não se come, não tem nada que ver com a língua, tem que ver com o estômago, é lá que principia toda a cadeia causal que levará - a menos que barrado o caminho - ao conhecimento, o conhecimento. 

A língua não pode ser distinguida, é preciso que esteja agarrada, para que quando um intelectual em apuros fique com o conhecimento entalado outro possa -comme il faut- com ela abrir-lhe o... caminho. 

É assim não é? Não? Talvez... hesito....