sábado, 5 de fevereiro de 2011

XXIII

     Então você acha que ia dar ali o hall para os homens dormirem? Não, rua com esses sujos todos! Esses que nem por isso desaparecem e antes se demoram do lado de fora da porta, gemendo por um grão de arroz! 

     Às vezes diria que cantam delirantes. Ajoelhados. Imploram para a esquerda e para a direita que lhes matem o bicho. Raspam-se pelas paredes e mordem-se até fazer sangue. O bicho maior do que eles. 

     Alguém pede lume. Com voz de criança damos e respondemos obrigado: O prazer de incendiar. 

     Cada vez mais longe... mais depressa... só pelo prazer da longitude que abandona o Norte. 

     A voz da dispersão: só uma! mas a minha! 

     Agora. Misteriosamente. Veloz. Já ninguém sabe que também a ele lhe assenta a carapuça. 

     Porque há mais alto, ali, a ilusão inalcansável. É já ali: O lugar dos famintos. 

     E o silêncio impressionante da vida, que assiste: a isto, e àquilo.

     “mas isso come-se?”

     Medo. 

     Será que apenas eu odeio os gráficos das estatísticas? Não porque são estatísticas, mas porque são demasiadamente gráficos. 

     A merda do homem a quem uma vida não lhe chegou para a aprender a conduzir, e a voz, eternamente à pendura, que lhe diz que vai bater. Rua! Rua! Rua!