segunda-feira, 2 de maio de 2011

XXX



     Cima, sempre para cima, pela escada em caracol direitos ao cimo da torre. Um degrau de cada vez, sempre para cima, sempre mais escada, sempre a virar. A escada familiar, cada degrau como o anterior, ninguém diria que de facto sobe, no entanto sempre a subir, sempre para cima. Para baixo nada a não ser a curva, para cima nada a não ser a curva, no entanto sempre a subir, sempre para cima, sempre a virar para o cimo da torre, quase a chegar. 

     Por vezes uma janela, uma seteira como se diz, encostamos a cara à pedra para ver melhor, lá fora. Uma árvore ao longe, uma macieira. É Verão, os olhos percorrem a erva seca, amarelada, até à sombra da árvore. Um pardal, salta, muda de ramo, salta novamente, sacode-se e voa para o chão, para a sombra da macieira. Silêncio. Uma corrente de ar quente entra pela janela, pela seteira como se diz, até à cara e para dentro da camisa até ao peito. A cara encostada à pedra fria para ver melhor, lá fora. Uma árvore ao longe, uma macieira. 

     Cima, sempre para cima, pela escada em caracol direitos ao cimo da torre. Estreita, apenas espaço para um de cada vez, sempre para cima, sempre mais escada, sempre a virar. A escada familiar, cada degrau como o anterior, pequenas falhas na pedra, pequenos veios, pequenos buracos, riscos, nomes gravados a unha, os degraus arredondados pelo tempo, ninguém diria que de facto sobe, no entanto sempre a subir, sempre para cima. Para baixo nada a não ser a curva, para cima nada a não ser a curva, no entanto sempre a subir, sempre para cima, sempre a virar até ao cimo da torre, no entanto sempre quase lá.