segunda-feira, 5 de setembro de 2011

XXXVI



     E se todo o café de repente soube-se ao mesmo? Se uma manhã eu me levantasse ainda cedo e dos telhados a perder de vista saíssem ainda colunas lentas de vapor, se consegui-se ainda ao debruçar-me na manhã gelada tocar pedaços do gelo da noite? Le froid devant moi... en face, je descend les escaliers. J'ouvre la porte, je l'entend fermer derrière moi. Personne ne ma vu. Juste un peu de pluie sur ma tète. Au ciel. 

     Não há um que mantenha os cinco dedos, o jogo de cada um pousado na mesa, virado para baixo, não há necessidade de olhar. As cartas são jogadas a duas mãos como na China. “Sentes o cheiro rapaz? O cheiro da merda, do sangue, do suor?” O cálice ergue-se com o que resta do mindinho e o polegar. “Não consegues controlar, a mão fecha, forte como se electrificada, dez segundos e acabou... no ar um cheiro a pólvora... merda! Isto ficou mal baralhado!... Sentes o cheiro rapaz? Este lugar é imundo. Merda, cheira a merda... És tu a dar” Um grande anel à antiga ainda brilha no anelar esquerdo. A cara é normal, o olhar despreocupado, o jogo recomeça sempre. 

     E se todo o café de repente soube-se ao mesmo? Se prédios inteiros ainda tremessem ao som dos meus passos e comboios me saíssem das mãos como de uma gare? Entretanto um cigarro.