Quando se come engole-se
Quando se deita dorme-se
Quando se queixa come-se
Quando se quer fode-se.
Entrou a esvoaçar pela janela aberta e posou, como uma pena na brisa, em cima da mesa da casa de jantar.
Retirou as asas não sem dificuldade, primeiro apertando-as ainda mais, soltando um lado e não o outro, esfregando-se contra as paredes e por fim fazendo-as escorregar até aos pés. Pendurou-as junto à porta e sentou-se exactamente abaixo, no chão.
Acendeu uma pequena beata que guardava no bolso para dias como este. Deixou-a arder lentamente entre o dedo mindinho e o vizinho.
Lá fora o dia terminava, tornava-se cinzento, nebuloso, frio.
Olhou para cima e com a beata incendiou uma primeira pena, que passando a chama às seguintes, e essas às outras até que as asas formaram uma chama imensa, redonda, imediatamente por cima da cabeça. Pedaços negros, carbonizados, ainda a fumegar caiam-lhe lentamente sobre os ombros, até que tudo acabou.
Lentamente dirigiu-se à janela, retirou o vaso de cima do parapeito e sentou-se, recebendo a brisa do fim da tarde, enquanto o dia terminava, o céu, primeiro cinzento, nebuloso. Depois negro, estrelado ainda, a noite.