quinta-feira, 11 de agosto de 2011

XXXIV



Esquece tudo o que aprendeste no exército. 

Aqui, não há lugar para isso, aqui tudo está perdido. Atacamos ao meio dia e meia hora, ao toque da corneta do almoço. Evitamos assim o peso dos talheres na corrida. 

Deve acontecer depressa, embora calmamente. Ainda é cedo, o importante é esquecer tudo o que aprendeste no exército, esta acção deve ser levada a cabo com o máximo pormenor. Larga a espingarda, acontecerá depressa, mas não tão depressa. Luvas grossas, açaime, fato macaco e mais nada. 

Quando soar a corneta corres e atacas, olhos bem cerrados, acima de tudo olhos bem cerrados. Deves falar sempre, a toda a hora, sem parar, sem deixar espaço. Até ao fim. 

Não esperes que te ajude, que te dê a mão, que não volte para aqui e te veja correr desenfreadamente. Não pronuncies o meu nome, não digas que alguma vez me viste, ou que falaste comigo. 

Corres sempre, olhos sempre fechados, sempre a falar, sempre sem parar. A dada altura o peito tornar-se-á mais pequeno, sentirás dificuldade em respirar, em recuperar o fôlego, em correr. É esse o sinal de que te aproximas. A terra, os montes, a erva... todo se aproxima e te consome, e tu nunca pararás de falar, nunca abrirás os olhos sob pena de explodires. Aí tudo estará perdido. Encore 




Quando o ataque terminar terás vencido ou perdido. Feitas as contas tanto faz, não tenhas medo. Ao abrir os olhos não tenhas medo, agora que a hora de almoço se aproxima. E o Sol bem alto aquecendo a terra. Será rápido, um instante, só uma vez.