domingo, 7 de agosto de 2011

XXXIII



     Vencido, está sentado contra o muro com a coluna partida em três partes. Uma ninharia, convinhamos, comparada com o número de partes em que uma coluna pode ser partida. Nenhuma das três a correcta. Contra o muro ainda respira, ainda é capaz de se reproduzir. 

     Outros virão, virão e tirarão partido do seu corpo imóvel, partido. Regalar-se-ão com a sua carne e o seu sangue até que nenhum sinal reste. 

     Respirará ainda, reproduzir-se-á ainda. Amanhã conseguiremos ainda ouvir os seus passos, o seu rastejo. Amanhã procuraremos por ele, ainda. De tempos a tempos iremos vê-lo ainda ao longe de fugida, desviaremos o nosso caminho na sua direcção, apenas porque caminhamos ainda. 

     Num dia, numa noite, qualquer que seja, ao acaso, sem que nada o faça prever, seremos capazes de o escutar respirar, ainda, mesmo ali ao pé. Acenderemos todas as luzes, gritaremos palavras de ordem, de ódio, e depois de perdão. Balbuciaremos ainda o seu nome ao adormecer. 

     O lagarto, vencido e espezinhado, deixará de respirar um dia. 

     Ainda In Memoriam... do lagarto.