quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

XVIII

      Alguém que caminhando pela rua pára. Alguém que prostrando-se desconhece a arte de se prostrar. Alguém num dia de Verão encosta a cabeça à terra e desaparece entre raízes e grãos de areia.
      À frente um monte. Um monte que se desdobra em erupções do granito. Granito que se eleva pelo meio das silvas e dos medronheiros. As silvas e os medronheiros que se multiplicam e explodem em flor. Um carvalho meio tombado mais adiante sobre o sopé enegrecido pela luz oblíqua da manhã. Ao longe o grito de um melro que corta todo negro por entre a folhagem. O melro lá desde a aurora. A ribeira lenta e melódica que desagua lá em baixo numa torrente insuperável e lamacenta de tudo o que há de ser. Para trás não há caminho, azinheiras de cada vez mais fechadas e tudo o que se vê é vivo. Para tras tudo grita. Sentamo-nos na sombra de um marmeleiro, experimentamos o fruto. Lá bem no ar um açor paira sob o sol. Aqui faremos Lisboa.